MJF: Melhor que o seu personagem favorito, e você sabe!
Eu fui conhecer mesmo o MJF na AEW, eu já tinha ouvido falar dele nas indys e tinha visto algumas promos, mas sendo sincero eu não entendia muito bem o apelo dele. Eu sacava que ele era esse cara arrogante que falava muito bem e a grande coisa sobre ele é que ele nunca saía do personagem, mas eu não entendia bem como isso diferenciava ele dos outros personagens que iam nessa direção também como o Miz e o EC3 por exemplo. Então ele debutou na AEW como esse heel ultra cuzão que podia passar horas tirando sarro de qualquer coisa que a crowd gostasse, exceto quando ele estava com o Cody Rhodes que era o maior babyface da companhia e o seu melhor amigo, é algo que escrito parece bem ridículo mas a AEW fez funcionar, porque era óbvio que em algum momento o turn do MJF nele viria, e quando veio foi sensacional, com ele não só custando o título mundial para o Cody mas qualquer chance do Rhodes conseguir outra chance pelo AEW World Title. Eu gostei desses primeiros meses do MJF e essa feud com o Cody, mas eu ainda não via tanta profundidade nesse personagem dele para compensar todo o hype que alguns fãs viam nele, e de certa forma estava tudo bem, porque historicamente falando personagens dentro do wrestling não são muito profundos, e isso é porque eles não precisam, todo o ponto de uma gimmick é vender uma luta contra outra gimmick, a maioria das histórias segue um roteiro parecido e se você pensar demais nelas elas não vão fazer muito sentido, tipo um nobre de sangue azul que vira rebelde sem causa que vira o CEO da empresa contra a qual ele se rebelava, então tudo bem o MJF ser apenas essa personificação de um cara babaca.
Porém em algum momento durante essa feud contra o Cody eu me deparei com esse vídeo acima. Um documentário do Kenny Johnson, que é especialista em documentários sobre nomes e bastidores do wrestling independente, em que ele vai entrevistar o MJF lá em 2018, com a proposta do documentário no papel ser uma entrevista com o intérprete do personagem. E ai a gente entra nesse universo bizarro em que o MJF nos recebe em sua casa, ele fala sobre a sua vida perfeita, suas conquistas antes do wrestling e o quanto ele é apenas um cara normal com uma vida normal porém que faz tudo de maneira aparentemente perfeita, mas algo parece muito estranho não só no comportamento dele mas também em todo o entorno da casa que ele esta e de tudo que ele esta falando. Ele fala com a mãe e o pai dele mas a gente nunca vê eles, ele insiste em ficar refazendo tomadas simples como abrir a porta para o entrevistador entrar, ele muda tem mudanças de humor arbitrarias e fica com um sorriso bizarro no rosto o tempo todo como se ele estivesse forçando ao máximo aquela expressão. E a melhor coisa sobre esse documentário todo é que nada é explicado, no final a gente descobre que a casa não é dele e as pessoas que estão nessa casa não são seus pais, e ele fica extremamente irritado e confrontativo quando é questionado com isso, deixando a gente completamente no escuro sobre quem é o verdadeiro MJF e o que foi tudo aquilo. Esse é um dos meus curtas favoritos sobre qualquer coisa, porque ele é muito bem feito tanto na construção do clima quanto na atuação do Kenny Johnson e principalmente do MJF, que traz essa performance vazia e estranha, fazendo um personagem interpretando outro personagem que ele quer que o entrevistador acredite que é real. E mais importante de tudo, esse documentário me mostrou finalmente toda a profundidade e o potencial que o Maxwell poderia ter em um grande palco como a AEW.
O tempo foi se passando e a gente viu mais nuances do personagem do MJF. O seu lado mais vilão cômico quando ele se aliou com Chris Jericho, e depois ele se virando contra o próprio Jericho voltando para o seu jeito mais clássico conseguindo quebrar o espirito da Inner Circle e fazendo sua própria stable, mostrando também ser um puta de um estrategista. Também a de se notar o seu momento "fora de personagem" quando ele insultou o Darby Allin com o pior que ele tinha e o Darby apenas respondeu que o MJF não iria conseguir quebrar ele mentalmente, e ele na mesma hora saiu do ringue irritado com essa ideia que ele não poderia quebrar mentalmente alguém, com o decorrer da feud sendo o MJF tentando quebrar o Darby de todas as formas possíveis, o que mostrou um lado muito mais sádico e até psicótico dele do que seu habitual trash talk arrogante e engraçado de sempre. Mas claro que a feud contra CM Punk foi onde a gente viu mais lados do MJF e conhecemos mais essa pessoa tão complexa. Para começar depois do Punk não citar ele em nenhuma entrevista ou promo, MJF foi até ele e estendeu sua mão para cumprimenta- lo em ringue, o que já parece bem estranho para ele, porém quando Punk não apertou sua mão, foi ai que ele entrou em modo de destruição completa em direção ao Straight Edge, indo direto confrontar ele em ringue e jogando os maiores shoots possíveis para ele, no que foi uma batalha fantástica de promos entre eles de quase 20 minutos, uma das melhores trocas de promos que eu já assisti. Contudo provavelmente a coisa mais impensável de acontecer com o personagem do MJF foi a sua noite de babyface, quando ele apareceu em um Dynamite em Long Island, na sua cidade natal, e parecia algo de outra dimensão, o público animado por ele, e o wrestler claramente muito feliz com toda a recepção calorosa que ele estava recebendo da sua terra natal. Muita gente achou que a pessoa Maxwell tinha quebrado um pouco o personagem ali na sua entrada, porque ele faz graça com os trejeitos do Punk mas ao mesmo tempo ele esta ostentando um sorriso que parece bem genuíno, e até talvez tenha um pouco do verdadeiro MJF ali, mas eu também acho que é um pouco de atuação e uma grande prova do quão bom ator esse cara é, principalmente com o que a gente saberia sobre sua história na continuação dessa storyline com o Punk.
Dia 23 de Fevereiro de 2021, MJF fez o que é na minha opinião a promo de sua vida. Na semana anterior Punk tinha mostrado uma foto sua com um MJF criança dizendo que aquele deve ter sido o maior momento da vida dele mas para Punk foi apenas uma sexta feira, foi ai que MJF veio a ringue e começou a contar a história por trás daquela foto, falando como ele era apenas um garoto com déficit de atenção que não conseguia fazer amigos e que tinha um amor incondicional por wrestling profissional, ele sofreu bullying na escola, mas aquele encontro com o CM Punk deu esperança para ele e fez com que ele quisesse ser um wrestler profissional, apenas para essa esperança ser arrancada dele com a saída de Punk do wrestling em 2014. MJF conta que essa saída destruiu completamente ele e fez ele desistir do seu sonho de lutar wrestling e ir para a faculdade, até que um dia ele viu uma foto do Punk apertando a mão do Bryan Danielson e foi ai que ele teve essa epifania, que ele iria se tornar o melhor do mundo não por causa do Punk mas sim apesar dele, que ele iria usar todo o ódio que ele acumulou por Punk depois dele ter abandonado todos os fãs como motivação para ser o melhor do mundo. Essa promo é genial em tantos níveis que é quase impossível citar todos eles. Primeiro que eu acho sensacional usar esse momento especifico do CM Punk deixando o wrestling como o momento que realmente quebrou esse personagem, porque é algo realmente histórico, não é difícil você achar pessoas que pararam completamente de ver wrestling por causa da saída de Punk, então não é difícil pensar que um garoto aspirante a wrestler que tinha o lutador straight edge como herói também pararia de lutar depois disso. Eu também gosto como tudo nessa promo parece honesto, real, quando eu assisti ela ao vivo eu fiquei esperando o twist, o momento em que ele diria que era tudo uma piada e usasse isso para insultar o público e o Punk, e a reação da crowd é exatamente a mesma, eles começaram vaiando o MJF, na metade da promo eles estão bem quietos prestando atenção, e de alguma forma o lutador mais cuzão e odiado da empresa termina a sua promo aplaudido pela multidão. Mas a minha coisa favorita desse segmento todo é que ele faz você olhar de uma forma diferente tudo que o MJF fez até agora. Você entende melhor porque ele quis fabricar uma vida perfeita para aquele documentário, porque ele se irritava tanto com o fato de não conseguir intimidar o Darby, já que ele foi intimidado durante a sua vida, porque ele se apresentou para o Punk e parecia tão obcecado em forçar uma rivalidade com esse lutador que não havia dito nada para ele, e porque ele parecia tão feliz em ter a sua entrada de herói na sua cidade natal, já que essa era a primeira vez que ele sentiu que as pessoas gostavam dele em algum lugar. E claro que em cima de tudo isso tem o fato irônico tirado direto dos clichês de histórias em quadrinhos, que indiretamente o CM Punk que criou o seu super vilão. É uma promo perfeita tanto em atuação quanto como construção de personagem, fazendo o MJF ter motivações e intenções que vão muito além do que apenas de um cara vendendo uma luta com outro cara, que faz a gente enxergar ele de outra forma e simpatizar com ele ao mesmo tempo em que ele vai ficando mais e mais odiável.
Eu assisto algumas séries que estão no ar atualmente, as que todo mundo dizem que são as melhores, então eu acho que eu tenho um pouco de autoridade para dizer que o MJF é um dos melhores personagens na televisão nesse momento. Ele sempre teve uma capacidade absurda de fazer promos sobre diferentes tópicos, e claramente ele estudou muito esse esporte, você consegue ver muito bem todas as referências que ele traz, a maioria dos seus worked shoots são coisas que jornalistas e fãs dizem dos outros lutadores então você enxerga o nível de pesquisa dele, mas foi nessa rivalidade com o CM Punk que ele mostrou toda a sua capacidade de atuação e o quão bem pensado é essa história desse vilão trágico chamado Maxwell Jacob Friedman. Inclusive para mim essa rivalidade teve o melhor final possível para esse personagem, Punk pronto para encerrar a match e MJF no seu último momento de luta cuspindo na cara do seu ex- ídolo, ele vai ser sempre um cuzão, não tem mais caminho de volta para esse cara. Pense nas camadas, em algum lugar tem um ser humano com uma vida normal separada da sua persona de wrestling interpretando um homem quebrado interpretando um cuzão que só conseguiu responder a tudo de ruim que ele passou na vida dessa forma. Isso claro que eu nem citei o talento dele como wrestler dentro de ringue e o fato que ele só tem 25 ANOS. Esse cara é um talento como poucos, ele se daria bem em qualquer veiculo de entretenimento mas ainda bem que ele escolheu o wrestling, porque ele ainda vai fazer muito na história desse esporte.
Então eu acho que a única coisa que eu posso pedir no final desse artigo é para você botar ai nos comentários o que você acha do MJF. Como eu disse quando eu não tiver muito tempo para fazer um artigo maior eu vou escrever algo rápido para encher o blog aqui, então até a próxima vez e flw.
Caralho que artigo foda!
ResponderExcluirEu comecei a prestar atenção no MJF naquele primeiro evento independente do bonde da ELITE que posteriormente viraria a AEW, o All In. A primeira impressão que eu tive dele foi o que muitos tiveram também "olha existe um The Miz nas indys também hahaha", e ali eu não fazia ideia do quão longe esse cara poderia ir. Achei muito foda como você descreveu o personagem com tantas camadas, sendo esse sujeito rejeitado que usa essa arrogância como escudo pra não ser ainda mais machucado pelas outras pessoas, ao mesmo tempo que deixa essas fraquezas em aberto. Eu sei que virou moda essa coisa de "humanizar o vilão" tipo o Coringa, mas o MJF tem isso naturalmente, um dos melhores personagens que eu já vi e certamente vai ser o maior heel de todos os tempos daqui a alguns anos. Outra coisa que eu queria comentar é que eu achei muito daora o comentário do CM Punk sobre essa feud, sendo uma carta de amor ao Roddy Piper, e não poderia ser melhor essa homenagem. Baita artigo!
O cara é simplesmente um genio do wrestling, e só tem 25 anos, e essa feud com o Cm Punk foi uma das coisas mais geniais que ja vi nessa modalidade.
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