Como Toni Storm e Mariah May transformaram rivalidade em cinema


Toni Storm já foi campeã, já foi querida, já foi odiada, já foi esquecida. Mas foi só quando perdeu tudo que virou algo maior.

Quando perdeu o AEW Women’s World Title para Hikaru Shida em 2023, algo dentro dela se rompeu. Toni despiu a lutadora genérica rockeirinha e vestiu a persona de uma estrela de cinema decadente do século passado. Uma movie star fora do tempo. Timeless.

Com sotaque britânico afiado e uma taça de vinho invisível na mão, Toni começou a encenar sua própria tragédia. Cada queda virou drama, cada fala virou monólogo, e o wrestling feminino nunca mais foi o mesmo. O ringue virou palco. Ela virou espetáculo.

E então surgiu Mariah May. A princípio, Mariah era apenas uma fã obcecada. Uma assistente loira e sorridente, com olhos de estrela e sotaque britânico combinando com o da chefe. Entrou como sombra voluntária, elogiando o figurino, decorando cada vírgula da estrela em crise.

Tudo era construído com Toni no papel da estrela intocável e cruel. Ela tratava Mariah com desprezo, mas aceitava sua presença porque era confortável ter alguém a seus pés. Jogava saltos no vestiário, interrompia falas, tirava o crédito de tudo que Mariah tentava construir.

Mariah, por outro lado, era a underdog perfeita. A assistente esforçada, meio inocente, sempre pronta pra agradar. A garota que o público podia facilmente apoiar. Ela parecia querer só fazer parte daquilo. Queria estar por perto. Queria aprender. Mas no fundo, Mariah também sonhava em ser estrela.


Ela via em Toni aquilo que queria ser. Copiava os gestos, os olhares, os trejeitos, o personagem antigo da Toni. E aos poucos, foi deixando de ser só sombra. Começou a brilhar um pouco demais. A falar mais. A se posicionar melhor no quadro. A audiência começou a notar. Toni aparentemente não.

Toni e Mariah viviam o auge da popularidade. A dupla era amada pelo público, dominava os holofotes, e funcionava como um espetáculo dentro do espetáculo. Mariah havia deixado de ser apenas a assistente loira no fundo da tela e se tornado parte essencial da apresentação.

Toni já não tratava ela com desprezo. Pelo contrário, confiava cegamente. Era como se, depois de meses de testes, Toni finalmente tivesse concedido a Mariah aquilo que ela tanto buscava: aprovação. Respeito. Um lugar no trono. Toni também vivia o seu auge após conquistar o Women's World Title, mas tudo mudou da água para o vinho...

Na final do Owen Hart Cup, Mariah enfrentou Willow Nightingale. Toni Storm estava no ringside, sorridente, torcendo de verdade por sua pupila. E torceu até o fim. Foi ela quem garantiu a vitória, ajudando Mariah a conquistar o maior feito de sua carreira até ali.

E foi ali também que tudo virou.

Segundos depois do fim da luta, com a arena em festa, Mariah May cravou o salto na testa de Toni Storm. O sangue escorreu. O público congelou. A aliança mais teatral da AEW virava um pesadelo dirigido com perfeição. Mariah então se inclinou sobre a ex-mentora e selou a traição com um beijo. Talvez na cena mais marcante da AEW em 2024.


Depois de meses buscando a aprovação de Toni Storm, Mariah finalmente a conseguiu. E usou isso pra apunhalar com um salto.

A rivalidade que nasceu com um salto ensanguentado cresceu como uma peça dividida em três atos. Toni Storm e Mariah May passaram de ícones inseparáveis a inimigas íntimas, e a tensão entre elas dominou a divisão feminina por meses. O duelo entre diva e traidora se tornou a narrativa central da AEW. E tudo foi se intensificando até chegar ao palco mais grandioso possível: o All In London, diante de mais de 80 mil pessoas no Wembley.

Naquela tarde/noite, Toni Storm finalmente teve a chance de se vingar. A luta foi uma guerra brutal. Toni, ferida pela traição, exibia no corpo e na expressão todo o peso daquela história. Em certo momento, o passado bateu à porta: o salto estava em suas mãos. O mesmo salto que abriu sua testa meses antes. O público gritou. O timing era perfeito. Mas Toni hesitou. Ela não conseguiu.

Mesmo com a vingança escancarada na frente dela, Toni Storm não teve coragem de atacar Mariah May com o salto. E foi justamente essa hesitação que selou seu destino. Mariah não pensou duas vezes, aproveitou a brecha, pegou o salto de volta e repetiu o gesto cruel. Um segundo golpe, mais sangue, mais uma vitória. E dessa vez, com um prêmio ainda maior: Mariah May se tornou a nova AEW Women’s World Champion.

Por meses, ela desfilou com o título nos ombros como se tivesse vencido o Oscar. Mas Toni Storm ainda não tinha dado sua última cena. No AEW Grand Slam, realizado em sua terra natal na Austrália, Toni Storm recuperou o título. Foi uma luta rápida, intensa e catártica. O público australiano explodiu com a vitória da filha pródiga. A Timeless Toni Storm voltava ao topo. Mas a história não estava fechada.

Ainda faltava o capítulo final. O palco final estava reservado para o maior espetáculo possível.


AEW Revolution 2025.
Toni Storm vs Mariah May.
Hollywood Ending Match.

O nome era mais do que um capricho criativo. Era o encerramento cinematográfico de uma rivalidade que sempre foi tratada como obra de arte. A luta aconteceu em Los Angeles, nas sombras das colinas de Hollywood, e as duas sabiam exatamente o que estavam prestes a entregar. E entregaram tudo.

Foi violento, foi dramático, foi sangrento. A luta parecia um filme de vingança com direção de Tarantino e figurino da década de 50. Toni e Mariah não se pouparam em nenhum momento. Era como se estivessem encenando cada ferida que causaram uma na outra nos meses anteriores. O salto, como não podia deixar de ser, também apareceu. Símbolo de tudo que separava as duas, ele voltou à cena como relíquia maldita. E dessa vez, Toni não hesitou.

No mesmo local da traição, no topo da rampa, Toni Storm pegou o salto e cravou com brutalidade na testa de Mariah May. O mesmo gesto, o mesmo ponto. O sangue escorreu como no passado. Mas agora, era ela quem dirigia a cena, era ela quem decidia o final.

Em seguida, Toni aplicou um Storm Zero através de uma mesa com o letreiro de Hollywood estampado. A mesa quebrou, o letreiro permaneceu intacto. Uma metáfora perfeita. O cenário era o mesmo, mas agora o roteiro era dela.

Coberta de sangue, Toni se jogou sobre o corpo de Mariah, imitando a pose que a rival fazia ao derrotá-la, e o telão apagou com uma única mensagem em letras garrafais:

The End.


Foi exagerado, cruel e artístico. E foi, sem sombra de dúvidas, o maior capítulo já escrito no wrestling feminino.

Porque Toni Storm não é apenas uma campeã. Ela é uma estrela, e estrelas sabem exatamente quando encerrar um ato.

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3 comentários:

  1. Eu gosto quando wrestling é bem escrito, mas eu gosto ainda mais quando ele é idiota e exagerado, porque no fim tudo envolvendo um esporte de pessoas fingindo que tao se batendo é meio idiota e exagerado. Por isso eu gostei da ideia da Timeless desde o primeiro segmento em que ela age como se tivesse 50 anos falando sobre seus dias de glórias com um sotaque exagerado.

    A Mariah May acaba sendo subestimada nessa storyline toda porque a Toni é tão incrivel e com um personagem tão bem feito que acaba nem sobrando espaço, mas a Mariah consegue ter nuitas nuances na storyline indo da estagiária inocente, ganhando confiança, a vilã completa e a minha favorita: a heel desequilibrada quando perde o cinturão, uma despedida perfeita para ela que agora deve ser a genérica número 5 no NXT. Ótimo artigo, tão classudo quanto uma promo da nossa Toni Storm e tão bem escrito quanto essa storyline toda.

    A NWO em 2025 me lembra muito essa gimmick da Toni, porque todos achavamos que estavamos velhos demais para escrever sobre esporte de mentirinha, que nossos dias de glórias ficaram no passado quando tudo era mais simples com brincadeiras em xats e madrugadas vendo japoneses, mas assim como a Toni Storm nós somos TIMELESS.

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    1. Também senti isso que a Mariah ficou subestimada, é uma das minhas wrestlers preferidas, fiquei tristão for real quando ela foi pra WWE pq já imaginava muita coisa foda que ela poderia fazer como heel ainda.

      Obrigado pelos elogios e pelo comentário meu parceiro, grande analogia na última frase também. TIMELESS NWO4LIFE!

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