Qualquer um que acompanhe um pouco futebol assistiu ao terremoto que aconteceu em Barcelona depois da vexatória derrota sofrida frente ao Bayern de Munique e depois toda novela envolvendo a saída de Lionel Messi. 

 

O clima de terra arrasada, a sensação de que aquilo que encantou o mundo por tanto tempo estava quebrado, que ao longo dos anos uma serie de decisões erradas terminaram por destruir aquilo que era especial, citando a poética expressão de um jornalista espanhol, eles “queimaram o paraíso”.

O paralelo que tentarei traçar hoje, embora de forma um pouco menos dramática, é algo que alguns fãs de Wrestling começam a sentir assistindo ao atual NXT, sendo que aqui marcamos como grande vexame e como ponto mais baixo que o show já alcançou o absolutamente decepcionante Takeover: In Your House , que na minha opinião foi o pior da historia da brand amarela.

 

 

O grande boom do NXT veio com as grandes contratações de nomes gigantes nas companhias indys ou vindos da saudosa TNA ou da NJPW, a geração marcada por Prince Devitt, El Generico, KENTA, PAC e Kevin Steen.

A fórmula que tínhamos eram historias com começo, meio e fim, parece algo básico, mas muito difícil de se encontrar hoje na WWE.

 Os wrestlers tinham a sua trajetória, conquistavam o título máximo, tinham um bom reinado e ate mesmo os fãs conseguiam intuir o momento onde esse ciclo tinha se completado e era o momento do wrestler subir para o main roster abrindo espaço para que o próximo se tornasse o main eventer do NXT.

Havia ainda aqui a sensação de que o NXT era uma brand de desenvolvimento, onde se cumpria um papel e então se seguia adiante, um dos problemas foi justamente o sucesso tremendo da brand ter pouco a pouco apagado essa imagem e tornado o produto tão relevante que fazia muitas pessoas assinarem a network apenas para assisti-lo. 

 

Outro detalhe é que o show não se baseava apenas nessas estrelas, tínhamos também o que por algum tempo foi a melhor tag team division do mundo, e com estrelas desenvolvidas pelo próprio NXT, como esquecer os grandes clássicos entre os American Alpha e os Revival, ou a revolução na divisão feminina causada pelas 4 horsemen.

Penso que podemos atribuir a ganância como um dos fatores que foi responsável pelo começo do fim, com o fim da TNA começou a vontade maníaca da WWE de dominar todo o Wrestling nos Estados Unidos, a forma como avançaram em todo o talento que aparecesse nas indys, as constantes presenças de William Regal nos eventos da PWG, a parceria que depois terminou matando a Evolve.

Por algum tempo parecia que o sistema funcionava, a WWE contratava um talento e isso meio que abria espaço para que um uppermidcard começasse a ganhar mais espaço nas indys, mas aconteceu de começarem a contratar além das grandes estrelas ate mesmo talentos que mal tinham começado a despontar, como por exemplo Lio Rush.

 

Lembro-me de uma entrevista onde Jon Moxley, na época ainda na WWE comentou que ele já sabia quem era quando foi para a FCW, recomendando o mesmo aos jovens talentos, que primeiro se descobrissem, criassem uma personalidade própria antes de ir para uma companhia maior.

A WWE ao invés de tentar criar personalidade e alguma identidade para esses talentos apenas dá para eles nomes ruins e limitam o moveset deles, não consigo ver qualquer avanço desde que foram contratados em nomes como Trevor Lee/Cameron Grimes e Killshot/Swerve Scott.

Outro fator não menos importante foi a morte do “American Dream” Dusty Rhodes, a importância dele para ajudar nas storylines e na criação dos personagens era enorme, uma lacuna que nunca conseguiu ser preenchida.

Como último golpe tivemos o surgimento da AEW e a resposta da WWE fazendo do NXT o show para ser derrotado, o show para impedir a AEW de alcançar 1 milhão de audiência semanalmente.

O NXT passou a investir cada vez mais no lado in ring, se tornando cada vez mais “indy”, qual a última grande storyline que o NXT nos deu depois de Ciampa vs Gargano?

Temos grandes combates, mas são lutas pelo título, sem tantas motivações ou coisas que nos prendam a storyline, sendo esse um defeito que muitos esperavam ver na AEW quando esta apareceu, mas que logo foi afastado.

 

Esse desespero em enfrentar a AEW ate levou a atitudes como Charlotte campeã do NXT, algo que causou imensos danos a divisão feminina e acabou com o promissor push da Rhea.

A AEW trouxe também outro problema, que teria acontecido da mesma forma, mas demorado um pouco mais, o NXT não tem  mais de onde contratar grandes talentos, o último anuncio de contratações traz bons nomes vindos da Evolve, mas nenhum deles é sequer um midcarder, são wrestlers talentosos mas que tem que ser trabalhados praticamente do zero, com gimmicks e boas historias para os segmentar. Hoje há serias duvidas se o NXT é capaz de dar isso a eles e ajudar no surgimento de novas estrelas.

Temos esgotamento, wrestlers que atingiram o topo, e depois do topo o único caminho é para baixo, aliado a falta de grandes storylines vemos apenas desperdício cada vez que olhamos para Gargano, Candice, Velveteen Dream e agora começa a dar essa sensação sobre os Undisputed Era. E ao mesmo tempo esses wrestlers representam o starpower que o show não pode abrir mão para continuar nessa batalha semanal com a Elite.

Um dos sinais dessa exaustão e dessa incapacidade de criar estrelas, além do péssimo planejamento para subidas, são os retornos como vimos de Balor, Ember Moon e Tyler Breeze.

 

Meus agradecimentos para os que chegaram ate aqui, e algumas questões que deixo com vocês para dialogarmos mais sobre esse tema.

Acreditam que a situação do NXT é tão ruim assim? Pensam que o show pode voltar a apresentar eventos tão bons como antes? E acreditam que é possível eles criarem as próprias estrelas?

 

And that´s the bottom line cause Boo said so.